No início da década de oitenta quase ninguém fabricava sapatilhas para escalada no Brasil e artigos importados eram coisa rara, então a gente comprava um par de Ki-Chute, cortava os cravos e lixava a sola até ficar lisinha. Pois essas são as características básicas dos calçados próprios para escalada em rocha: Tem sola de borracha macia, totalmente lisa formando um corpo só com a biqueira. A idéia é chegar o mais perto possível de envolver o pé com uma camada de borracha quase aderente, bem firme em torno do pé, de modo que qualquer pequena saliência da rocha possa servir de apoio à ponta ou à lateral da sola ou, mesmo não havendo saliências, que um mínimo de aspereza da pedra possa “grudar” na sola do pé chapada contra a pedra.
As sapatilhas são usadas bem justas, um ou dois números abaixo do que se calça normalmente. Muitos escaladores chegam realmente a judiar dos pés, em busca de melhores performances. Outra característica é a curvatura, mais um artifício para dar mais firmeza ao calçado. Quanto mais “técnica” for a sapatilha, maior a curvatura, maiores as possibilidades de explorar ínfimos pontos de apoio... e maior o alívio na hora de descalçar!
Hoje existem ótimas sapatilhas nacionais e é fácil encontrar importadas, nas lojas de artigos para montanhismo. Um bom par de sapatilhas nos pés realmente faz uma grande diferença, tornando bem mais fácil escalar, mas nem pense em caminhar de sapatilhas. Além de estragá-las andando na terra você também fará um grande estrago nos pés, pois elas decididamente não foram inventadas para caminhadas. O escalador costuma trazer seu par de sapatilhas num saco dentro da mochila e só calçá-las ao pé da parede.
© Stefan Semenoff
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