domingo, 5 de outubro de 2014

Botas impermeáveis x Botas impermeáveis-respiráveis x Botas comuns


Esse artigo nasceu de um comentário sobre uma questão que eu vi no Facebook na página do FuiAcampar. Muita gente tem dúvida se é melhor investir em uma bota impermeável, em uma impermeável-respirável ou em uma bota comum. Particularmente eu já usei os três tipos e de alguns anos para cá só uso as impermeáveis-respiráveis. Mas qual o motivo?
Bota Buxton Hi-Tec
Bota impermeável-respirável que eu estou usando há um bom tempo já – Buxton, da Hi-Tec
Uma bota completamente impermeável, sem tecnologia de respiração, ou seja, que não permite que o suor no interior do calçado seja eliminado, irá se tornar um problema caso você venha a molha-la por dentro. O motivo é simples: ela vai manter a umidade dentro até que você retire ela do pé. Caso você insista em caminhar com a bota encharcada irá favorecer o aparecimento de bolhas… E isso pode acontecer mesmo que você não molhe a bota por dentro, o suor dos seus pés já pode gerar esse problema em uma bota dessas. Aqui se enquadram muitos coturnos militares dos modelos mais comuns e baratos, botas de trilha sem tecnologias de respiração e as botas feitas em borracha (como aquelas galochas).
Já as botas comuns de trilha sem tecnologias de impermeabilização e nem de respiração poderão permitir que a água saia pelo próprio tecido, porém não impedirão que ela continue entrando em caso de uma chuva forte por exemplo. Note que a água que sairá será aquela que existir em excesso dentro do calçado (quando a bota está realmente encharcada), não espere que a umidade gerada pelo suor do seu pé consiga deixar a bota. Por mais que você retire a bota do pé, remova a água e volte a calça-la ainda assim ela estará bem úmida por dentro, e por não permitir que aquela unidade saia você poderá ter problemas.
Os dois modelos de botas acima não são boas opções para locais mais frios, já que elas permitem ou que a água fique presa dentro da bota ou que ela continue entrando. E tão pouco são boas opções para locais muito quentes onde você irá suar mais nos pés. Vale lembrar que quando o corpo está com frio ele faz com que o sangue chegue em menor volume nas extremidades. Então ter os pés molhados em um local frio não é uma boa ideia (ainda mais durante o inverno em alguma serra mais alta aqui no Brasil). Aliás também fuja dos tênis em situações de frio já que eles não oferecem uma boa opção de impermeabilidade – na minha opinião mesmo os tênis impermeáveis não são tão vantajosos, já que a ausência de um cano mais alto facilita a entrada de água em situações de chuva forte, travessias de riachos ou em locais muito molhados.
Botas impermeáveis-respiráveis. Este é o tipo de bota que eu costumo usar atualmente para todas as trilhas que eu faço, com raras exceções (trilhas de litoral) onde eu caminho com tênis ao invés de botas. Qual a vantagem que eu vejo neste tipo de bota?
Simples, ela me permite manter a água do lado de fora e eliminar o suor do pé através da respirabilidade do tecido.
Mesmo quando uma bota com esta tecnologia é molhada por dentro a situação não chega a ser tão ruim. Basta remover o excesso de água, trocar as meias se possível e deixar que o resto seja eliminado naturalmente através da geração de calor/suor do pé. O calor gerado pela caminhada irá transformar o resto da umidade em vapor que será eliminado junto com o suor através da tecnologia de respiração do calçado – mas é claro que isso não acontece em minutos, leva um bom tempo, principalmente se a bota estiver muito molhada por dentro.
Snake Alpinist
Outro modelo de bota impermeável-respirável que eu usei por muitos anos, a Snake Alpinist. (foto: Elque Silva – Salar de Uyuni)
Bota impermeável
A mesma Snake Alpinist da foto anterior, mas agora pendurada na minha mochila de ataque nos acampamento dois do Huayna Potosi – 5300m de altitude, aproximadamente.
Essa respiração do calçado funciona graças a tecidos especiais (Goretex, Novadry, Sympatex, Dry-Tec…) que permitem que as partículas de vapor saiam da bota através de microporos. Esses microporos são pequenos demais para as partículas de água que estão do lado de fora do calçado, por isso a água não atravessa no sentido de fora para dentro, mas o vapor do suor consegue atravessar esses poros.
Mesmo que eu use uma bota impermeável-respirável em um local mais quente ela também se mostraria mais vantajosa, novamente por causa da tecnologia de respiração que não vai permitir um grande acúmulo de suor dentro da bota – basta também que eu a utilize com a meia correta para um clima mais quente, é claro.
Em resumo, independente do terreno e do clima eu recomendo que a bota seja impermeável-respirável, já que este tipo de calçado lhe permitirá um leque mais amplo de uso, indo de locais mais quentes até locais um pouco mais frios, oferecendo mais segurança do que um tênis e melhores características de conforto do que outros tipos de botas sem as tecnologias de respiração ou de impermeabilização.
Outro quesito importante com relação ao conforto de uma caminhada, e em alguns casos até a segurança (quando se trata de locais realmente frios), é a escolha da meia certa. Muita gente reclama de bolhas, de frio nos pés ou de suor em excesso mas não se dá conta de que o problema pode ter sido a escolha da meia errada para aquela situação. Esses detalhes sobre as meias serão tema de um outro artigo.
Até! Boas trips e bons ventos.
Mario Nery

Publicado por Mario Nery ()

Trekker, montanhista e mochileiro, pratica esportes outdoor desde 1990. Apaixonado por equipamentos, fotografia, cerveja e tecnologia. Formado em TI, atualmente trabalha na área mídias sociais/marketing digital. Siga o Trekking Brasil no Twitter: @trekking
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